Dispositivos de Leitura Eletrônicos


Medieval Helpdesk – ou como ler um livro impresso!

Comprei um Kindle (mas há outros como o Nook, Sony Reader, Alfa da Positivo) e estou lendo mais do que nunca. Voltei inclusive a ler jornal (e não cliclar em links nos online), assinando alguns periódicos (coisa que não fazia há tempos). A tinta eletrônica é incrível e a tela parece papel, não sendo iluminada (o que dá um grande conforto). Esse conjunto de características faz da leitura uma experiência muito similar à leitura de um livro em papel ou de um jornal ou revista impressos. E não há pirotecnias (o que sempre me incomodou em CD Rom, DVD ou livros interativos). Há assim as vantagens (dicionário de acesso imediato ao posicionar o curso próximo a uma palavra, marcação e notas que podem ser estocadas e compartilhadas – no Twitter ou Youtube-, compra e acesso imediato de livros, revistas ou jornais, sem espera ou pagamento de fretes, portabilidade e acesso a uma biblioteca de ate 3 mil livros em um único dispositivo de 300g…) e as desvantagens (bateria – embora a do Kindle dure quase um mês sem o wi-fi ligado, não há o cheiro ou o manuseio das páginas, o objeto – o codex – e a sua coleção – a biblio – fetiches desaparecem, não dá pra riscar do lado com um bom lápis…). Não se trata de um contra o outro (continuo a lendo livros em papel, a clicar em links nos jornais online), mas de aproveitar as oportunidades dessa nova forma de leitura.

Como vimos no vídeo acima, é preciso adaptação. Sempre que o suporte material está muito próximo do corpo e cria assim práticas específicas de uso, o seu abandono é mais difícil. Por isso não abandonamos o cinema e não nos importamos muito com a mudança do suporte musical, já que a experiência é ouvir a música (embora haja a nostalgia do Vinil). Na leitura (jornal ou livro), mesmo que o conteúdo a ser lido seja o mais importante, a prática está condicionada pelo suporte. Daí termos mais dificuldade em mudar para leitores eletrônicos. Talvez a “era do impresso” (a Galáxia Gutenberg) tenha sido apenas um parêntese (o Parêntese Gutenberg) na história da leitura e da escrita e esteja sendo superada pela “era do digital”. Enquanto isso, vamos lendo, em um ou outro formato!

Abaixo um reflexão sobre a materialidade dos dispositivos, tendo com objeto empírico o jornal, mas que pode ser aplicado também ao livro. Esse texto faz parte de um artigo ainda no prelo e em edição que deverá ser publicado em Portugal. Logo após, ofereço um conjunto de links para e-books de graça.

Jornal em papel, no Kindle ou no iPad

O jornal impresso tem o papel como suporte, onde os caracteres estão previamente fixados. Ele é um produto acabado, como uma temporalidade própria (quotidiano em sua maioria) que indica (affordance – BLOOMFIELD, et. al., 2010) uma determinada postura corporal (sentado, folheando as páginas) e um momento especial de leitura, mais focado, já que o produto é oferecido de forma finalizada ao leitor. Ele é barato, portátil e descartável. Já o jornal na web é mais utilitário (não se compra um produto fechado), com conexão entre links que oferecem possibilidades de leitura mais rápida e eficiente. Os caracteres (agora eletrônicos) fixam-se por demanda, a cada clique, aparecendo em uma tela iluminada, desaparecendo a cada navegação. Não há um fechamento temporal, já que no jornal na web as atualizações das matérias são constantes e, diferentemente do impresso, há formatos multimidiáticos e interativos. Esse produto jornalístico oferece ainda a possibilidade de acesso à arquivos em bancos de dados (memória). A postura corporal é bem diferente daquela do leitor do jornal impresso. O corpo curva-se sobre uma máquina, convocando uma posição parecida com aquela de quem trabalha com computadores.

Um jornal em um e-reader, como o “Kindle” por exemplo, retoma a idéia de um produto fechado, como o jornal impresso, com uma temporalidade também delimitada (a edição do dia). Ao clicar para “baixar” o jornal (comprando um exemplar ou fazendo uma assinatura), o usuário tem a versão do dia, similar à versão impressa. Os caracteres digitais fixam-se como tinta eletrônica em uma tela sem luz que emula (bem) o papel. Há menos fotos que o impresso e, na sua maioria, não há o uso de links, como no jornal na web. Por suas características de “leitor eletrônico”, esse dispositivo procura trazer de volta a experiência de ler um livro ou um jornal em papel. Mas ele não é um suporte em papel. Embora o e-reader seja portátil, como o impresso, ele amplia as possibilidade de acesso já que o usuário pode, em um clique, receber um exemplar em qualquer lugar do mundo, em segundos (por redes sem fio – Wi-Fi ou 3G). Pode-se ainda acumular os exemplares sem que com isso tenha que carregar os cadernos impressos (ou os livros). E isso em um único aparelho de menos de 300g (a capacidade é de mais de 3 mil livros nos atuais e-readers). Com um conteúdo fechado (como um livro em papel ou o jornal impresso), a leitura é mais focada, diferente do “surf” na web. A postura corporal também é diferente, seja daquela do jornal na web, seja da leitura do jornal impresso: não se abre os cadernos em movimentos amplos dos braços, e não se está sentado com o corpo curvado em direção a um computador. A leitura é mais próxima da de um livro (duas ou uma mão diante dos olhos).

Já a leitura de um jornal ou livro em um tablet, como o iPad por exemplo, não é nem como a leitura de um jornal impresso, nem como um jornal na web, nem como a leitura em um e-reader. O tablet utiliza aplicativos adaptados ao dispositivo. A informação é fixada em uma tela iluminada (bem diferente do conforto da tinta eletrônica dos e-readers) oferecendo a possibilidade de uma postura próxima daquela de quem lê um livro (diferente assim daquela da web). Mas o conteúdo é outro, aberto, com links, interativo, multimidiático, adaptado à tela touch-screen e aos movimentos de rotação do equipamento. Por exemplo, ao usar o acelerômetro (rodá-lo e colocá-lo na horizontal ou vertical) uma imagem pode se transformar em um vídeo, um artigo em um gráfico, etc. A tela tátil permite uma interação mais complexa e intuitiva do que aquela com o teclado para a Web, ou as teclas para passar as páginas de um e-reader. A ação corporal é diferente daquela do impresso ou da web e bem mais próxima dos e-readers, embora a interatividade crie novas exigências de apoio do dispositivo, ou de movimentos, que o diferenciam.

Nesse rápido exemplo, vemos como uma análise da materialidade revela diversos agentes (dispositivos, produtores de textos, designers de software, de imagens e de sons, novas práticas e hábitos corporais, redefinição de lugares constituídos , de distribuidores, de leitores, de escritores, etc.). Todos esses atores humanos e não-humanos (LATOUR, 2005) têm um papel fundamental na comunicação. E isso não é uma novidade já que ocorre o mesmo desde o surgimento da escrita, na passagem às tabuas, pergaminhos e depois ao códex. Não podemos reduzir o processo comunicacional à simplicidade do esquema “emissor-mensagem-canal-receptor”, ou apenas à hermenêutica da mensagem.

(…)

Links para e-books

Na minha busca por e-books, encontrei alguns links interessantes que compartilho aqui. O Kindle usa o arquivo “mobi” (mas funciona com outros como PDF ou DOC) e os outros leitores, inclusive o iPad (que não é apenas um leitor), o arquivo “e-pub”, mas não há problemas de conversão usando programas para isso. Um desses programas é o Calibre que ajuda na conversão de diversos formato (http://calibre-ebook.com/):

http://www.feedbooks.com
http://www.gutenberg.org/wiki/Main_Page
http://www.free-download-ebooks.com/
http://ebooksgo.org/index.html
http://www.archive.org/details/texts
http://www.retroread.com/
http://gallica.bnf.fr/ebooks
http://www.munseys.com/joomla/
http://www.mobileread.com/
http://librivox.org/
http://www.ebouquin.fr/2010/02/27/ou-trouver-des-livres-electroniques/
http://www.ebooksgratuits.com/ebooks.php
http://www.fnac.com/telecharger-ebook.asp?NID=%2D73&RNID=%2D73
http://www.ebookcult.com.br/
http://purl.pt/index/geral/PT/index.html
http://www.virtualbooks.com.br/v2/ebooks/?idioma=Portugu%EAs
http://www.pdfebook.net/
http://www.fonerbooks.com/free.htm
http://openlibrary.org/
http://librairie.immateriel.fr/
http://www.ebookslib.com/
http://mozambook.free.fr/