Alice no País das Maravilhas
Livro maravilhoso que estréia hoje no Brasil em versão cinematográfica pelas mãos talentosas de Tim Burton
Hoje é o dia mundial do livro. Ou seja, dia de leitura, razão de existência dos livros, no passado, no presente e no futuro, seja em Kindles, iPads ou celulares. Para comemorar, reproduzo uma entrevista minha com Thamyres Dias do Globo Online (não sei se já foi publicado ou se não será nunca…). Depois, reproduzo posts meus no Twitter sobre a leitura e impressão do hilário “Twitterature”, citado também na entrevista.
Entrevista
– Com a difusão da Internet e suas redes sociais – principalmente o Twitter – a literatura ganhou maior espaço na rede, assumindo também novas formas, como os microcontos, por exemplo, ou a poesia interativa. Como você analisa esses novos formatos? É possível obter uma produção de qualidade em textos cada vez menores?
Estamos ainda no início da experimentação de novos formatos literários na rede. Mas experiências em blogs como novelas ou diários, e os microcontos e poemas no twitter, entre outras formas, têm ganhado espaço com a rede. Acredito que é possível sim uma literatura de qualidade. O mais interessante é a abertura do processo de emissão e a possibilidade de não vermos represadas competências por causa da incapacidade das editoras. O processo também é diferente onde produção e publicação são simultâneas.
– Em alguns casos, a construção desses textos se dá de forma colaborativa. Em outros meios, como no jornalismo, a participação do leitor se apresenta como uma tendência para o presente e o futuro. Na sua opinião, essa é também uma tendência na literatura? A participação pode extrapolar o virtual e também fazer parte dos livros impressos?
Acho que esse não é o aspecto mais importante. A participação é interessante em alguns momentos, mas o que faz uma boa literatura não é a participação do leitor como autor, mas engajá-lo nessa condição mesma, a de leitor. Fazer isso é a maior vitória da literatura. Não acho que essa seja uma tendência. Essa é uma oportunidade dada pelos novos meios e a rede, mas não a tendência. Acho que a tendência é a produção aberta e a circulação cada vez maior da palavra escrita (ou seja, da leitura). Sim, acho que pode-se passar do eletrônico ao papel e vice-versa. Talvez o mais interessante seja mesmo a coexistência dos diversos formatos do escrito.
– A produção literária na Internet pode substituir a leitura em papel?
Pode, mas acho que ainda estamos bem longe disso. Fiz um post no meu blog sobre esse tema – https://andrelemos.info/2010/02/end-books/ . Agora, com leitores de e-books mais confortáveis essa questão se coloca mesmo. Devemos pensar e apreender com a história que mesmo a noção de livro evoluiu muito até o Codex cristão. Podemos pensar no e-book efetivamente como livro e abolirmos o papel. Talvez isso seja uma libertação. Talvez não. Publico em papel e acabo de publicar meu primeiro livro em formato de e-book pela editora Plus de Porto Alegre (Caderno de Viagem. Comunicação, Lugares e Tecnologias, disponiovel gratuitamente em http://editoraplus.org). Veremos em um futuro próximo.
– O que você acha de adaptações de grandes obras da literatura para o Twitter?
Acabei de comprar e ler o livro Twitterature de Aciman e Rensin, pela Penguin Books que pretende resumir em alguns twits grandes obras da literatura mundial. Não gosto do argumento (que a literatura clássica é do século passado) ou da idéia de que seja possível reduzir grandes obras a poucas frases, com a interpretação das obras pelos autores. Acho, no entanto, que é um livro de humor. Ri bastante lendo trechos do livro com intepretações engraçadas dos autores. Não deve ser levado a sério e os livros clássicos devem ser lidos, na íntegra, com suas temporalidades próprias.
– Tem acompanhado outros projetos de literatura na rede? Algum que gostaria de destacar?
Acompanho no Twitter o @Z_ER_O_O, o @semruido, e o @arjunbasu. São experiências diferentes.
– Sobre os projetos @re_vira_volta e @re_viravolta, como surgiu a ideia? Existe abertura para que outros usuários ajudem a escrever a história?
Tinha uma novela escrita a algum tempo, sem conseguir terminá-la. Pensei então em transferi-la para o twitter e experimentar, toda semana, a escrita de frases em 140 caracteres para contar a história. Escrevo a partir da idéia original, mas cada semana a escrita e sua produção (publicação no twitter) são simultâneas e vão tomando rumos próprios. Isso muda o estilo da narrativa e a própria história com a tinha pensado anteriormente. Há links entre os dois twitter que vão remetendo um ao outro no andamento da história (há sons e imagens também). Mas trata-se de uma única história. Escrevo toda semana, sempre nos fins de samana, desde 27 de junho de 2009. Não tenho ainda previsão de quando vou encerrar a história. Reviravolta conta a história de um personagem que se vê às voltas com o seu desaparecimento dos sistemas de informação, questionando assim a sua própria existência. É um exercício de estilo, uma diversão e uma forma de experimentar esse novo formato. Acho que é a primeira experiência desse gênero no Brasil (não é microconto, não é poesia, é novela, em capítulos semanais).
– Você observa uma mudança na forma de ler das pessoas? Essas novidades da rede refletem os desejos desse “novo público”?
Acho que sim, pois o suporte muda. Mudando o suporte, muda a forma de leitura e abre oportunidades para novos públicos. Mas o mais importante é que podemos produzir informação sem ter que nos preocupar muito com isso. O que interessa aqui é a possibilidade de emissão e de exercício da criatividade.
Twitterature
Lendo agora, para me divertir, o hilário livro “twitterature” q pretende resumir em até 20 tweets clássicos da literatura mundial. funny!
Do twitterature, um tweet do “resumo” da Odisséia de Homero: ” Calypso wanted to marry me. Bitch. Who does she think I am? I have a wife..”
Ou ainda Alice no pais…: like many book characters, I’m pretty bored. Oh! A white rabbit! Just like in The Matrix. That movie was dope..
Ou o último tweet para o fim do Hobbit: “oh shit a huge battle! if only this had happened earlier I wouldn’t have been so fucking bored!”
Ou seja, assim como os clássicos, leitura indispensável – diversão garantida. Twitterature de Aciman e Rensin, Penguin, 2009.
Feliz dia mundial do livro!!!