Dead Drops ‘How to’ – NYC from aram bartholl on Vimeo.
Algumas idéias são bem simples, mas de grande impacto. É o caso do Dead Drops, projeto do inquieto e criativo artista alemão Aram Bartholl, criando, segundo ele, uma rede social offline, anônima, de compartilhamento de arquivos no espaço público. Mais do que a efetividade da criação de uma rede de troca de arquivos, o que me parece interessante aqui é que o projeto oferece, materialmente e “cimentando” literalmente no espaço urbano: 1. uma experiência de emulação do espaço eletrônico (redes peer to peer de troca de arquivos); 2. levar ao extremo o conceito de “mídias locativas”; 3. oferecer uma interessante peça de arte urbana; e 4. propor um sistema que escapa à onda de vigilância e controle, já que anônima e offline.
Bartholl tem feito isso em suas obras. Ele sempre traduz para o offline experiências online (o que ele chama de Netzdatenwelt vs. Alltagslebensraum). Podemos citar rapidamente o trabalho Map, que coloca um marcador gigante no espaço urbano imitando os marcadores que colocamos nos locais que desejamos em mapas digitais, mostrando erros, por exemplo. No seu site podem ser vistas as suas obras.
Em Dead Drops, ele reforça a espacialização da informação e provoca a discussão sobre as mídias locativas (ver sobre esse tema os meus artigos aqui, aqui ou aqui), tornando literal a definição de que essas são: processos e mídias nos quais a informação está ligada diretamente a um local. Nesse novo projeto, Bartholl mostra de forma radical a “ligação” da informação ao local. Ele “concretiza”, a relação fazendo com que a troca de informação se dê, não por nuvens de conexão sem fio, como no caso das mídias locatovas (redes wi-fi, bluetooth, 3G), mas por uma conexão física, erótica, na qual o usuário deve oferecer a abertura do seu dispositivo USB ao conector cimentado no local e plugá-lo; ou como dizemos por aqui, “espetar” o pen drive na abertura do seu aparelho. Vejam que há aqui algo de promíscuo, similar a uma relação sexual desprotegida com diversos parceiros desconhecidos: risco de contaminação (por vírus) já que não sabemos com quem estamos compartilhando arquivos e quais são esses arquivos compartilhados no pen drive).
Essa relação erótica, concreta e local, põe em evidência e radicaliza os anseios de diversos projetos com mídias locativas (colocar o usuário em relação direta com o espaço, o lugar e o contexto da troca de informação). Os diversos projetos com mídias locativas (vejam meus artigos e outros posts nesse Carnet para uma visão mais ampla) buscam fazer com que o usuário prenda-se à um lugar para acessar informação sobre um determinado local com dispositivos móveis a partir de conexões sem fio. No Dead Drops, com uma relação concreta e quase pornográfica com o pen drive (já que visível e pública) cimentado em uma parede, esses lugares passam a oferecer informação (gratuita e anônima) e se transformam em “hot spots” de compartilhamento de informação. Um espécie de orgia informativa, pública, aberta, visível e anônima. Aqui vemos a diferença com as mídias locativas online: deve-se ter autorização de acesso, se indentificar, tem-se conhecimento do que se acessa, etc. Tudo é controlado e normatizado. Normalmente, os territórios informacionais (sobre territórios informacionais veja esse artigo) das mídias locativas são controlados por coorporações. Já o território informacional criado pelo Dead Drops é uma espécie de “terrain vague“, terra de ninguém de acesso livre e de trocas de bits e bytes.
Vejam aqui mais fotos do projeto no Flickr. Abaixo o mapa de lugares onde podemos encontrar uma Dead Drops.