Cellphone in Airplanes
Está hoje em todos os veículos noticiosos a permissão do uso de telefones celulares no espaço aéreo europeu. Vejam matéria da BBC Europe clears mobiles on aircraft, para mais detalhes. Trechos:
“The decision means that mobiles could be used once a plane has reached an altitude of 3,000m or more. It follows six months of consultation by the European regulator and the first services could launch next month. (…) The European Commission has introduced new rules to harmonise the technical requirements for the safe in-flight use of mobile phones. The commission is also making it possible to enable the national licences granted to individual airlines by a member state to be recognised throughout the EU. (…)The European Aviation Safety Agency still needs to approve any hardware that would be installed in aircraft to ensure that it did not interfere with other flight systems.”
Bom, o que quero destacar aqui é que podemos ver um excelente exemplo de como as tecnologias da mobilidade modificam os espaços de lugar. Aqui, a mobilidade virtual/informacional é criada (permissão de uso de telefones celulares) em meio à mobilidade física (o deslocamento do corpo no avião) criando tensões entre essas mobilidades e a imobilidade móvel (o confinamento nesse espaço que se move) que caracteriza o uso do “lugar” avião. Não é mais o mesmo avião. Novas heterotopias (Foucault).
Podemos antever a modificação do “espaço/lugar avião” em várias frentes: as relações dos passageiros entre eles, a relação dos passageiros com o mundo lá fora, a divisão em temporalidades e espacialidades distintas…Vemos como uma nova mídia (como todas aliás) faz com que a viagem, o viajante, e o veículo se modifiquem.
O isolamento obrigatório nessa carcaça de aço – que leva os passageiros à leitura, ao trabalho no laptop, a assistir filmes, a ouvir música ou a tomar um remédio para dormir, ou tudo isso ao mesmo tempo, já que é dificil nos suportar sem fazer nada e ainda mais trancado a 10km de altura – vai se alterar, por abir possibilidades de mobilidade informacional que influenciarão as relações e as práticas do objeto e da ação de viajar: do que se engaja nesse lugar. Entram em jogo aqui policronias e monocronias, espaços múltiplos e compartilhados que alterarão a experiência, criando novas formas de trabalho e de lazer, e também novos conflitos. O uso desse dispositivo técnico criará um “novo setido de lugar”, um novo “avião” e uma nova experiência da viagem.
Como descreve Latour em um artigo sobre a cancela, o pasto, a ovelha e o pastor (que não me recordo a referência agora ;-)), não há ator principal, todos são “actantes” exercendo influências nesse ambiente/sistema. Assim celular, passageiro, pilotos, atendentes, e o mundo lá fora, participam desse jogo de influências, criando um “novo sentido de lugar”. Mais um exemplo de como as tecnologias digitais de comunicação móvel possibilitam aos usuários (aqui passageiros) a fusão de mobilidade física e informacional (com produção e emissão de informação) criando novos sentidos dos lugares, dos territórios, das relações sociais, das práticas comunicacionais…
Vai ficar muito mais difícil ler, ver um vídeo ou simplesmente dormir. Não se trata de estar em conexão para uma comunicacional urgente. O que está em jogo é a urgência da comunicação e da conexão, a urgência em estarmos sempre disponíveis…para suprir o vazio e a ausência, a falta de sentido e a incompletude. Com diz Xavier de Maistre em “Voyage Autour de Ma Chambre” (1794), um dos maiores problemas da humanidade é que o homem não sabe ficar sozinho no seu quarto.
E não ficará no seu avião!