Biblioteca, Pesquisa, Territorio e Mobilidade*
*desculpem, sem acentos
Biblioteca
Ainda sem computador, comeco a trabalhar efetivamente, e mais metodicamente, na pesquisa. A Universidade de Alberta tem uma excelente biblioteca e me oferece todas as condicoes de pesquisa. So para vcs terem uma ideia, em minutos fiz pela rede pesquisa em bases de dados online, tanto de material online como dos livros disponiveis nas prateleiras, de casa. Reservei tudo pela rede e comecei a pega-los nas diversas bibliotecas do Campus. A coisa funciona assim: Depois de uma reserva pela internet os livros ficam com uma etiqueta com meu nome em uma prateleira. Passo la, pego o livro, coloco-o em um sistema automatico de emprestimo, passo meu cartao (“One Card”, que serve para toda a universidade e pode ser ate cartao de pagamento) e estou liberado. Quantos posso pegar? quantos quiser. Quando a biblioteca fica aberta? Todos os dias (so fecha no natal). Quanto tempo posso ficar com eles? Quanto tempo eu quiser. Tenho um tempo meu (acho que um mes) mas posso ficar quanto tempo quiser. Se alguem solicita o livro, eu recebo um email pedindo a devolucao. Uma fantastica estrutura. Achei tudo o que procurei e estou com mais de 20 livros me esperando.
Para comecar estou trabalhando com os seguintes livros:
“View from Nowhere”, de Thomas Nagel, filosofia, sobre a nossa condicao no mundo, nossa posicao diante das coisas e os limites e tensoes entre a objetividade (que identifica assim o real) e a subjetividade, que nao pode ser destacada da forma objetiva de ver o mundo. Acabei de ler “Mobilie Technologies of the City”, de John Urry e Mimi Sheller, uma organizacao com varios artigos interessantes sobre locative games, mobilidade, vigilancia, wi-fi…Estou com o vol 1, n. 1 da revista “Mobilities” (Routledge) com artigos que tratam da mobilidade social, neomomadismo, locative games, entre outras formas de mobilidade. Comecei o classico “Social and Cultural Mobility” de Sorokin e estou formulando melhor a nocao de territorio com a ajuda do basico, mas muito interessante, “Territory, a short introduction”, de David Delaney. Os outros livros estao na minha sala no Space and Culture na UA. Ao mesmo tempo estou escrevendo, e o plano e’ sair com um livro sobre o assunto daqui. Bom e para variar e nao perder o habito, leio o ultimo romance do britanico Graham Swift, “Tomorrow”.
Pesquisa, Territorio, Mobilidade
Minha pesquisa e’ sobre a questao da mobilidade, dos territorios informacionais e das midias locativas em interface com processos sociais e comunicacionais, como voces podem ver nos meus ultimos artigos. Celular, bluetoth, RFID, redes Wi-Fi, GPS, wireless games, etc., estao no meu cardapio. Como essas tecnologias redefinem a mobilidade, os territorios, as cidades, a comunicacao. Foi sugerido em uma dessas leituras, inclusive, um novo campo, “urban new media studies”, “cybermobilities”…. Acho que estou por aqui, ao menos agora.
Comecei tambem a fazer ensaios fotograficos sobre as fronteiras dos territorios que encontramos no dia a dia em Edmonton. Todos os tipos, as senhas de acesso, as formas de vigilancia e controle. O objetivo e’, em primeiro lugar, me ajudar a ilustrar as minhas ideias e, em segundo lugar, me ajudar a conhecer tambem a cidade (ainda estou sem computador e em breve coloco as fotos por aqui).
Na realidade os territorios sao zonas de controle de fronteiras por onde a mobilidade e os fluxos se exercem (em diferentes velociades, formas de acesso, poderes e amplitude), e a forma de controle dessa mobilidade e dos fluxos pelos territorios e’ o que podemos chamar de vigilancia, moniotoramento, controle: Codigos de acesso em portas, tickets eletronicos do metro, senhas para internet, etc, sao barreiras de acesso a territorios especificos, tanto em territorios fisicos, como eletronicos (automatizados, feitos por softwares que “escrevem a cidade”, sem intervencao humana, projetivo, etc). E isso sem falar em territorialidades simbolicas como a cultura, a politica, a religiao, a lingua…Assim, pensar territorio e’ pensar mobilidade e fluxo, e e’ pensar tambem formas de controle e vigilancia. Tudo esta’ diretamente interligado (aqui a teoria de Latour, Serres, Callon, a saber a de “redes de atores”, pode nos ajudar).
Assim, pensar a mobilidade e os fluxos deve levar em conta hoje nao apenas as territorialidades fisicas, mas as novas formas de territorialidade eletronica potencializadas pelas tecnologias e dispositivos de comunicacao, comecando pelos mass media, chegando hoje a uma radicalidade maior com o que chamei de midas pos-massivas criando novas mobilidade e “territorios informacionais”. Vejam meu ultimos artigos para mais detalhes.
Edmonton e Mobilidade
Tem sido interessante tambem pensar mobilidade, territorio informacional e controle de fronteiras em meio a minha nova situacao: Edmonton e’ ampla, plana, como uma baixa densidade populacional, fria, cheia de centros comerciais onde o que poderiamos chamar de espaco publico, ou semi-publico, se configura. Tirando o centro da cidade, so ha mesmo pessoas nos centros comerciais. A paisagem (landscape) aqui ‘e formada pelas muitas casas, alguns predios no downtown, ruas e avenidas tento o horizonte marcado por um ceu azul brilhante, e automoveis que passam, param e seguem. Edmonton e’ uma cidade onde o automovel cria, inscreve e desfaz os lugares. Pensar territorio, movimento e lugar aqui so faz sentido se pensar como o carro se configura como a forma de inscricao e de apropriacao da cidade. E’ com o carro que os edmontonians leem e inscrevem a cidade. O carro e’ o software de inscricao da cidade por aqui.
Ha’ transportes publicos e poucos taxis. Os onibus sao uma opcao. A cidade e’ bem servida, funciona, e eles sao rigorosamente pontuais, mas parece que todos optam mesmo pelo carro, e nao sao simples carros, mas “big trucks”. Essa e’ a forma mais explicita de mobilidade por aqui. Ao menos aos meus olhos ainda estrangeiros e distantes. Praticamente nao ha metro, apenas uma unica linha que nao cobre bem a cidade. Dei sorte ja que tenho um ponto de onibus na porta de casa e ele me leva a uma estacao de metro e desta chego a Universidade. Levo, ao todo, 35 minutos. De carro levaria 10min. Ja vemos aqui formas (poderes) e mobilidades diferentes.
Vejamos o meu caso: Estou pensando a mobilidade (meu objeto de pesquisa) estando em varios sentidos, imovel, ou com pouca mobilidade, embora exercendo a desterritorializacao, o fluxo e o movimento maior, por excelencia, o pensamento (Deleuze). Bom, tenho diversas limitacoes de movimento. Estou limitado nos meus movimentos do meu corpo por nao ter um carro (ir ao supermercado e’ uma aventura), estou limitados tambem por nao conhecer ainda os codigos culturais, estou limitado na minha habilidade discursiva ja que nao estou completamente movel na lingua, estou limitado na minha condicao de estrangeiro, estou tambem sem celular e sem o meu laptop, tendo assim, pouca mobilidade informacional (a nao ser quando estou imovel em casa, conectado, com um laptop emprestado e com o telefone fixo). Pretendo, no entanto, criar condicoes para me locomover melhor em todos esses dominios em um muitissimo curto prazo. ;-))
No entanto, algo parace interessante e tem me ajudado a compreender todas as dimensoes dos problemas:
Seria possivel pensar a mobilidade, em plena mobilidade?
Nao seria a imobilidade, ou um limite da mobilidade plena, uma condicao fundamental para pensar o seu oposto.
Pode ser que nao, mas estou tirando proveito dessa situacao. ;-)
Mais informacoes, fotos e textos estarao aqui quando estiver mais movel, podendo me locomover com mais facilidade por todos os territorios, principalmente os informacionais.
Caro André, legal saber que tudo corre bem. Aproveita por aí, que a gente vai aprendendo com você por aqui. Abraços!