Acabo de ler um post do David M. Wood, Augmented Reality or alternate unrealities?, no qual ele cita um artigo do The Guardian de Charlie Brooker sobre a “realidade aumentada”. No artigo o autor defende a ideia de que esses sistemas podem ser usados para mascarar a realidade, para evitar o olhar para o mundo imediato (e na maioria das vezes incômodo) e o “outro”. Esses sistemas podem instituir assim uma “irrealidade aumentada”.
“(…)What’s more, the goggles could be adapted to suit whichever level of poverty you wanted to ignore: by simply twisting a dial, you could replace not just the homeless but anyone who receives benefits, or wears cheap clothes, or has a regional accent, or watches ITV, and so on, right up the scale until it had obliterated all but the most grandiose royals. (…)
And don’t go thinking augmented reality is going to be content with augmenting what you see. It’s a short jump from augmented vision (your beergut’s vanished and you’ve got a nice tan), to augmented audio (constant reactive background music that makes your entire life sound more like a movie), to augmented odour (break wind and it smells like a casserole), and augmented touch (what concrete bench? It feels like a beanbag). Eventually, painful sensations such as extreme temperature and acute physical discomfort could be remixed into something more palatable. (…)”
Mostrei em outro post como a questão da narrativa (a escolha dos autores, os pontos de vista, o que é ou não contado, etc.) está no cerne desses sistemas. O que o artigo do The Guardian e o post de Wood mostram é exatamente isso: a construção de uma narrativa que pode, em um futuro próximo, estabelecer novos regimes de visão sobre o mundo que mostre e institua uma realidade mais palatável, mais confortável. Trata-se aqui de formas narrativas e regimes de visão que constroem o mundo a partir de um sujeito que tudo filtra pela lente da câmera do celular e pelos softwares utilizados pelo sistema. Mais do que aumentar a realidade, o que podemos ver é efetivamente a sua redução.
Bastante instigante a observação:
“No artigo o autor defende a ideia de que esses sistemas podem ser usados para mascarar a realidade, para evitar o olhar para o mundo imediato (e na maioria das vezes incômodo) e o “outro”.
Parece ser um tendência natural do homem “a fulga da realidade” e a tentativa de construir universos muitas vezes oníricos e utópicos. Quando essa tendência inata encontra as tecnologias da fuga, sejam elas conceituais ou materiais, tende-se a exarcebação dos procedimentos de escape da realidade.
Vejo também isso como a ponta do iceberg, pois pelo que parece as tecnologias da (un) reality encontraram seu apogeu na convergência da nanotecnologia, robótica e dos avanços da neurociência relativos ao desenvolvimento das interfaces cérebro-máquina.