Tenho desenvolvido o conceito de território informacional há algum tempo e nesse momento mesmo tento finalizar um livro sobre esse tema (espacialização e mídias de geolocalização). Para mais sobre o assunto ver alguns dos meus artigos aqui, aqui e aqui.
O projeto “Border Bumping” (criado por Julian Oliver) me parece bem interessante para comprovar mais uma vez a existência desses territórios informacionais. Rapidamente, por território informacional entendo camadas de controle informacional (eletrônico-digital) em forte relação com o lugar. Este é fruto não de uma fixação, mas de mobilidade de fluxos territorializantes e desterritorializantes. Um lugar é, seja ele qual for, caracterizado por controle de fronteiras, territórios (culturais, subjetivos, pessoais, legais, geográficos e informacionais). Essa última dimensão, a informacional, tem se tornado muito importante com o desenvolvimento das redes telemáticas e reconfigurado práticas (sociais, culturais, econômicas…) nos espaços urbanos das grandes cidade. Veja recente artigo aqui mostrando como “Space Counts: Why Physical Flows Matter in an Increasingly Virtual World”.
Redes Wi-Fi, 3G, 4G, bluetooth, RFIDs, entre outras, têm transformado os lugares, criando novas formas de espacialização. Precisamos descrever as dinâmicas dos territórios informacionais na reconfiguração do espaço urbano contemporâneo para melhor compreender as diversas relações entre espaço, lugar, mídia e dispositivos móveis. Vejam aqui o meu artigo sobre espaço como “rede”, apresentado na última Compós e ainda não publicado.
Pois bem, o projeto Border Bumping mostra como o território informacional “deforma” o território geopolítico pelo simples uso dos telefones celulares. Ao chegar perto de uma fronteira, os telefones celulares (o projeto desenvolveu um aplicativo para Android) buscam torres e pontos de triangulação para manterem-se em conexão. Assim, mesmo antes de cruzar fisicamente uma fronteira, o usuário já está, informacionalmente falanto, do outro lado (o sistema pode mesmo acusar que alguém está na França – pelo roaming do celular, quando na realidade o usuário ainda está na Alemanha, por exemplo). O aplicativo monitora esses deformações de fronteiras entre territórios geopolíticos e informacionais. As implicações são muitas: visualização de mobilidades, territorialização informacional, permeabilidade de fronteiras, vigilância e controle…Vejam a introdução do projeto:
Border Bumping is a work of dislocative media that situates cellular telecommunications infrastructure as a disruptive force, challenging the integrity of national borders.
As we traverse borders our cellular devices hop from network to network across neighbouring territories, often before or after we ourselves have arrived. These moments, of our device operating in one territory whilst our body continues in another, can be seen to produce a new and contradictory terrain for action..
Running a freely available, custom-built smartphone application, Border Bumping agents collect cell tower and location data as they traverse national borders in trains, cars, buses, boats or on foot. Moments of discrepancy at the edges are logged and uploaded to the central Border Bumping server, at the point of crossing.
For instance: a user is in Germany but her device reports she is in France. The Border Bumping server will take this report literally and the French border is redrawn accordingly. The ongoing collection and rendering of these disparities results in an ever evolving record of infrastructurally antagonised territory, a tele-cartography.
Os territórios informacionais reconfiguram os lugares nas cidades contemporâneas (a casa, o trabalho, os cafés, os shoppings, as empresas, o trânsito, as praças públicas etc.). No mapa abaixo, vemos, literalmente, como esses territórios informacionais (os círculos concêntricos em vermelho) deformam as fronteiras geopoliticas (as linhas contínuas e as novas linhas pontilhadas) desses lugares, deslocando-os (daí o termo proposto – dislocative media). As fronteiras geopolíticas mudam repentinamente e se deformam com o uso do dispositivo e suas redes interligadas (a territorialização informacional).
Cliquem no mapa abaixo (e aguardem um pouco) para visualizar essa “desterritorialização informacional” em movimento.