“Em sua estrutura, as novas mídias são igualitárias. Por meio de um simples processo de conexão, todos podem participar dela (…) As novas mídias têm a tendência a eliminar todos os privilégios de formação, e com isso também o monopólio cultural da inteligência burguesa”. Hans Magnus Enzensberger, 1970
We.Music, produzido e dirigido pela Galeria Experiência e desenvolvido por Pix, Remix Social Ideas e o MIS, é um interessante documentário sobre a transformação no campo da produção, distribuição e consumo musical causada pela revolução digital, mais particularmente a web. O vídeo mostra como, no caso da música, mas podemos extrapolar também para outras áreas, a marca da cibercultura é o remix, a liberdade de emissão, a facilidade de produção de conteúdo, o domínio da produção e da distribuição, a autonomia dos produtores em relação às indústrias de massa, a possibilidade de conhecimento de novos parceiros e do trabalho colaborativo à distância…
O documentário tem como foco a relação dos músicos com a internet, mostrando como eles ganham maior independência, criam novas possibilidades expressivas, abrem condições para viver efetivamente da música, podem se tornar conhecidos sem ter que necessariamente passar por um mediador, aproveitam a abertura da redes para realizar trabalhos com parceiros que, sem a web, seria muito mais difícil, etc. Tudo isso é bem conhecido e o documentário reforça o que estamos vendo diariamente na internet (liberação da emissão, domínio da distribuição, liberdade de produção, maior visibilidade, trabalho colaborativo, etc.).
No entanto, o que achei mais interessante em We.Music foi ver a construção de uma narrativa em que a cidade aparece como “fundo” dessa prática, mas um “fundo” que se configura como elemento crucial (embora aparentemente marginal) da atividade dos músicos e de suas relações com as novas tecnologias. A relação com o lugar (a cidade) é assim parte fundamental da experiência dos músicos e produtores musicais e, consequentemente, de suas atuações na Web. A cidade de São Paulo aparece como uma metrópole que cria as condições (materiais e imaginárias) para essa “revolução” musical, conjugando a música na primeira pessoa do plural. O contexto local, urbano, destaca o documentário, é parte fundamental da desmaterialização, da democratização e da nova liberdade da produção, circulação e consumo musical na web.
Vejam alguns depoimentos:
“um lugar que representa a música que a gente gosta é o metrô de São Paulo”,
“…quando falo de remix, data base, etc., lembro logo da Serra da Cantareira”,
“uma parada que entra sempre nas minhas rimas é a Radial Leste…”
“o Baixo – Augusta junta temas que eu tenho pra mim quando eu faço música”.
E por aí vai…O vídeo é entrecortado de depoimentos sobre a Web, a produção musical e a relação dos músicos com o espaço urbano. É como se a paisagem musical, sonora, nada mais fosse do que reflexo da paisagem urbana, quotidiana. Aqui, contexto agitado, móvel, dinâmico, local, se relaciona com a circulação em rede, colaborativa e fluida da música no ciberespaço: espaço urbano e ciberespaço entrelaçados nas tramas sonoras contemporâneas.
WE.MUSIC – COMO A WEB REVOLUCIONA A MÚSICA? from My PIX on Vimeo.