Flânerie e GPS
Depois do evento acadêmico no Palais de Congrès pela manhã, passei o dia todo andando, conhecendo a bela cidade do Québec, com certeza a mais européia das cidades canadenses. Aqui nasceu o Canadá, sendo descoberto em 1535 pelo francês Jacques Cartier. Capital da província do Québec, 94% da população são de origem francesa. A Universidade de Laval foi fundada em 1663 pelo padre Montmorency-Laval quando só haviam 600 haitantes por aqui! Bom, para mais infos sobre a cidade vejam a wikipedia ou guias de viagem! Andei muito e marquei meus percursos com o “GPS Tracker”. Coloco os mapas e as impressões imagéticas depois no “ciberflânerie”.
Percurso caótico de hoje a tarde
O interessante d GPS Tracker é que ele não é um localizador com mapas (como os equipamentos de GPS tradicionais, ou os GPS embarcados em telefones celulares), ou seja, não sei por onde estou andando, nem o que encontrarei pela frente, nem mesmo o que tem ao meu redor (a não ser o que meus olhos alcançam). Descubro as coisas andando ao acaso, ou com guias e mapas que não uso muito normalmente ;-)). Vejos coisas de interesse “turístico” também mas gosto de andar e ver pessoas, mercados, ruelas sem dar muito sentido ao percuso. O GPS não é para mim um guia, um indicador de percurso, ou mesmo um instrumento de localização. Até esqueço dele (ele é do tamanho de uma caixa de fósforos)… O dispositivo é mais um instrumento para o futuro me mostrar o passado do que um validador do presente: um instrumento mnemônico e locativo que só uso a posteriori. Praticamente, só vejo o meu percurso quando exporto os dados como arquivo “klm” e abro no Google Earth.
O tracker, e não o mapa com voz me dizendo “vire aqui ou ali”, é assim uma ferramenta ideal para flâneurs (embora totalmente dispensável ;-) ) , para aqueles que não buscam a produção de um percurso eficiente ou a rentabilização ao máximo dos custos da viagem ;-)). Para turistas objetivos buscando rentabilidade, o “GPS Traker” não serve para nada (bom serve se for acoplado à um celular ou laptop).
Só vejo o traçado (a imagem acima) quando lanço os dados no Google Earth e ele, magicamente, aparece (com erros, veja, que não andei no rio, dentro d’água!). Depois vou colocando as impressões que guardei em forma de fotos, vídeos ou posts no meu ciberflanerie…Me interesso particularmente por essa deambulação urbana, por essa “l’art de l’égarement”, como dizia Benjamin sobre Paris, e busco ver como as mídias locativas podem servir mais para a desorientação, para o encontro inusitado e casual, para a surpresa, do que para a localização, monitoramento, o controle ou vigilância do meu espaço. Com o GPS Tracker refaço o passado no futuro e curto o presente.
Estou lendo agora dois livros sobre o tema do nomadismo e da flânerie: um, como já falei aqui, do Atalli sobre a história universal do nomadismo, “L’Homme Nomade”, e um outro, mais ensaístico e ficcional, “Éloge de la Mache”, número da revista Moebius, 116.
Citações de três textos da revista Moebius:
“Ces marches sont orientées quand l’intérêt de la promenade tient tout entier dans l’intervalle. La promenade n’inspire pourtant pas le respect qu’on accorde à la rigueur du parcours semé d’observations exhaustives et méthodiques entre deux points. Le parcours trace une ligne; la promenade, un cercle où le promeneur perd don chemin” (Jean-Claude Brochu)
“…nous accueillons cette démarche (la flânerie, la promenade) comme une expérience où l’être humain cherche à établir un équilibre entre corps et esprit (…) Appelons donc cet état: rêvasserie” (Louise Cotnoir)
“Voici venu le temps où la marche s’arrête
immobile au milieu des souffles suspendus,
le goût de pleurer fendant seul la carcasse.
Ma carcasse. Ma car.
Rien, c’est tout.
C’est assez. Phénom
énalem…
…out.”
(André Brochu)