Cartography
Visitei hoje a impressionante nova Bibliothèque et Archives nationales du Québec. Um prédio com diversos serviços e setores (terei que voltar mais vezes – vejam o link). Aproveitei e visitei a exposição “Ils ont Cartographié l’Amérique”, mostrando a importância dos mapas e dos instrumentos de localização para a conquista da América e a constituição da Nova França, o Québec.
Os mapas eram, ao mesmo tempo, instrumentos de navegação e também um dos objetivo das expedições – produzir conhecimento “locativo”, documentar tudo em imagens para aumentar as formas de conquita, de controle e a expansão dos territórios. A exposição mostra diversos documentos com ênfase, claro, na história do Québec. Não me foi permitido fotografar.
Muito legal poder ver mais uma vez instrumentos ancestrais do GPS, como bússolas; balestilhas (arbolètes) – que calculavam a latitude medindo o ângulo entre o horizonte e o sol ao meio-dia; astrolábios – direção e latitude; tábuas de loch – velocidade e direção; nocturlábio – hora aproximada pela posição das estrelas, entre outros.
O embate entre natureza, dispositivo técnico e conhecimento humano me parece ser o grande diferencial em relação aos modernos GPS, onde a única coisa que precisamos fazer e apertar o “power” e seguir setas ou vozes em simulação (agora até em 3D do lugar onde estamos). Não há mais embate com o mundo externo, que se transforma em simulação perfeitamente compreensível e controlável. Não há mais natureza, só simulação. Pode ser mais efetivo, mas certamente, menos interessante.
Fiquei pensando também em como esses instrumentos de localização tinham uma função midiática, já que permitinham, pela expansão do conhecimento do espaço, pelas tensões entre fronteiras, pela permeabilidade entre membranas culturais, tensões civilizatórias entre os impérios da época, competição, contato e troca, mesmo sob o signo da violência na maioria das vezes. Eram instrumentos de localização, mas também de comunicação: verdadeiros hubs imagéticos que colocavam povos e civilizações em choque e transformavam, a cada viagem, o mundo conhecido da época. Excitação essa que nos é hoje impossível: encontrar terras, povos e culturas vivas desconhecidas…Algo que só se podemos sentir, mas de muito longe, na arqueologia contemporânea. Tempo de domínio total. Muito sem graça!