Conceptual Art
Exposições interessantes no Musée d’art contemporain de Montréal. Gostei principalmente do trabalho do artista canadense, Geoffrey Farmer, de Vancouver e do britânico Darren Almond.
De Farmer destaco a instalação, apresentada primeiro na Tate Gallery, em Londres, “Nothing Can Separate US (When the Wheel Turns, Why does a Pot Emerge?)” de 2007. Uma sala inteira com uma grande roldana (destaque na foto acima) propondo a idéia de sinos de igrejas e um conjunto de espelhos, quadros, pedaços de jornais, fotos e diversos cacarecos evocando questões relativas às mídias, à comunicação : periódicos, cinema, fotografia, perspectivas, paisagem… Ao entrar na sala ouvimos sons e depois percebemos um post-it com um número de celular. Ao ligar para número indicado, um celular na sala recebe a ligação e aciona uma colher que bate em uma panela como um sino. Em jogo a comunicação humana e condição de conexão permanente: “what can separate us”?
Interessante também a vídeo-instalação em HD (high-definition) de Almond, “In the Between”, de 2006, que faz parte da exposição “Une image sonore”. Nessa instalação entramos em uma sala com três telões mostrando no centro monges tibetanos (bem atual, portanto) sentados entoando cantos, mantras que se repetem, e nas duas outras telas imagens de trens e de paisagens gravadas a partir dos trens, mostrando movimento e, ao mesmo tempo, repetição. Essa instalação me levou a pensar mais uma vez em como a mobilidade está sempre atrelada à imobilidade. No fundo, uma parece ser condição necessária da outra. A vídeo-instalação mostra assim a tensão entre mobilidade física (transporte, redes de estradas de ferro, paisagens que se desenrolam diante de nós – espetáculo) e, mobilidade imaginária, informacional (os monges imóveis, sentados no centro, entoando mantras minimalistas que dão o ritmo e criam a trilha sonora da instalação). O público, sentado ou em pé, participa dessa tensão: mobile imobile.
“In the 2006 work In the Between, Almond follows the new railway line between Xining,China, and Lhasa, Tibet. Dubbed the Celestial Road, the track crosses the Kunlun Shan mountain range, which forms a natural boundary along the northern edge of the Tibetan plateau. Its construction sparked controversy. According to Chinese authorities, the train is helping to bring Tibet out of its isolation and to encourage its development; for many world observers, however, it poses a threat to Tibetan culture and identity. In a three-screen projection, the 14-minute work juxtaposes images of the train and the landscapes it crosses with scenes shot at the Samye monastery, founded by the Indian guru Padmasambhava, who is credited with authorship of the Bardo Thodol or The Tibetan Book of the Dead. The chanting of the prayers and the sound of the Tibetan horns, drums and bells give the work a remarkable acoustic dimension. “
Na saída compro o livro “Le goût de Montréal”, coleção de pequenos textos organizados por Marle-Morgane Le Moël (Mercure de France, 2008) sobre a cidade pela pluma de escritores como Stefan Zweig, Michel Tremblay, Jacques Chartier, entre outros.
Destaco agora esse trecho de Alain Gerber:
“C’est un rare privilège que d’être délivré de son ombre. Je laisse mon ombre à Paris, sous belle guarde, et je déambule rue Sainte Catherine, transparent, incognito à mes propres yeux. Montréal sait ce qui lui reste à faire. (…) Ailleurs, j’éprouve le sentiment, sans doute injustifié (Dieu merci, la passion est injuste), que les choses se trouvent où elles sont par la tyrannie des besoins et le calculs des avantages (…). La realité balance entre deux chimère: ce qui n’est déjà plus et ce qui n’émerge pas encore”.