A Cidade da Internet das Coisas

Participo na amanhã do evento Virada Digital, em Parati, no Rio de Janeiro. Falo na mesa sobre “cibercidade e ciberperiferia” e vou tratar do tema emergente da “Internet das Coisas e Cidade”. Vou começar discutindo as cidades inteligentes, a partir do site “citydashboard” do UK e o COR, Centro de Operações Rio (o site é inexpressivo), parceria do Município com a IBM em seu projeto “Smarter Cities“. Em breve coloco aqui nesse Carnet a apresentação.

Visitei na mês passado o projeto (obrigado George Soares pela recepção e gentileza) e é impressionante a estrutura do COR e sua articulação entre 30 instituições do município. O centro foi inaugurado em 31 de dezembro de 2010 começando a operar imediatamente com uma telão de 80 metros quadrados com informações as mais diversas. Ambulâncias, carros de limpeza e outros veículos do município são monitorados por GPS. As companhia de energia mostra em tempo real onde há falta de eletricidade. É possível ver todas as escolar municipais públicas com informações atualizadas, além de ter informações sobre obras programadas e emergênciais, situação de casos de dengue, iliuminação pública, linhas do metrô, entre outras informações.


Sede do COR


Visão do Mídia Rio, tela central com camadas de informações no Google Earth

O centro possibilita a visualização da cidade em tempo real, com informações em camadas georeferenciadas colocadas no Google Earth e com mais de 800 câmeras espalhadas pela cidade podendo detectar os mais diversos problemas (problemas de trânsito, incêndios, desabamentos…). Há um radar meteorológico que faz uma excelente cobertura do município permitindo antecipar problemas de deslizamentos ou alagamentos. O COR pode acionar as sirenes de alarme nas comunidades que possuem esse dispositivo em caso de risco de desabamento de encostas, bloquear ruas e avenidas, mudar o temporizador dos semáforos, em suma, intervir em todas as áreas importantes do município com rapidez e de forma integrada, de acordo com a situação.

O COR emite 3 boletins diários com uma radiografia da cidade, dando um panorama da situação do trânsito, metrô, trens, aeroportos, meteorologia etc. Há muitos dados coletados. Mas, tanto os dados como as imagens não são acessíveis ao público. Não há uma política de “open data” e o público não pode acessar remotamente o mapa da cidade com as suas diversas camadas informacionais. O acompanhamento das informação do COR se dá pelo Twitter, forma escolhida para contato direto com o público em geral.Há uma sala de crise com videoconferência de onde o prefeito pode tomar decisões junto com outras autoridades.


Twitter do COR

Esse projeto é único no mundo. Há outros, mas em menor escala. O interessante é ver as diversas instituições (policia, bombeiros, defesa civil, energia, metrô, limpeza, obras etc), reunidas em um só lugar, tomando decisões em conjunto. Essa é uma das diferenças em relação às outras experiências do projeto “Smarter Cities” da IBM. Os projetos de cidades “inteligentes” parece ser a tendência mundial. Eles apontam para uma maior integração da gestão das cidades com o a Internet das Coisas, onde objetos enviam informações em tempo real e georeferenciadas.


Vídeo sobre o COR na Globo News

Recentemente tenho havido discussões sobre os projetos de “smarter cities” da IBM e questões como vigilância e fé na tecnologia emergem e são mesmo muito pertinentes. Há um potêncial muito grande de controle e vigilância dos cidadãos e de delegação ao dispositivo técnico sobre a precisão das informações e as formas de ação que serão tomadas consequentemente. No entanto, pelo que pude observar, o trabalho do COR está centrado não na vigilância individual, mas na busca por um melhor funcionamento da cidade com o intuito de liberar os cidadãos dos entraves no seu dia a dia. As decisão são instruídas pelos objetos técnicos, mas os sujeitos estão em conversa, juntos em um mesmo lugar, observando as demandas e se posicionando. Não se trata de ser a IBM o novo prefeito, ou de ser uma cidade de ficção científica, ou mesmo o Big Brother da prefeitura da cidade. Há um enorme exagero nessas afirmações.

O perigo está, ao meu ver, não tanto na camada de administração das coisas (está aqui também, se direitos não forem respeitados), mas na vigilância locativa, sutil, exercida pelos diversos sistemas de monitoramento e controle de informações como nas redes sociais e nas etiquetas de rádiofrequência. É importante tomar conhecimento do desenvolvimento da internet das coisas no “sistema” e no “mundo da vida”. E fundamental que projetos criativos, colaborativos, comunitários ou artísticos surjam de baixo para cima.

O importante é que a Internet das Coisas seja também a internet das pessoas. O trocadilho é fácil, e quase sem sentido (como pensar uma internet que não seja das coisas e das pessoas ao mesmo tempo, de forma híbrida?), mas o destaque aqui é para projetos em que o sujeito possa se apropriar dos objetos para produzir e criar, de forma autônoma, outras informações fora da eficiência e da objetividade da gestão pública. O importante é que haja do lado do sistema administrativo um uso justo e respeitoso dos direitos de privacidade e anonimato dos cidadãoes e, do outro, que eles possam criar dispositivos e objetos que ampliem a sua compreensão do espaço e produzam sentido na sua relação com a cidade. Podemos dizer que o COR é a internet das coisas do “espaço concebido”, como proposto por Henri Lefebvre, da representação da tecnocracia que gere o espaço abstrato (engenheiros, urbanistas, administradores…). A Internet das Coisas deve ser desenvolvida também nos níveis do espaço percebido e vivido, no “mundo da vida”.

Na minha fala em Parati, vou insistir nessa última dimensão e tentar mostrar que, para além do automatismo da informação entre os objetos para tornar mais eficiente nossa vida no dia a dia (domótica, transportes inteligentes, comunicação eficaz etc), há a necessidade de produção de novos discursos, de novas narrativas sobre o urbano (do ser perder, de serendipity, do ficar invisível aos sistemas de detecção, de ressaltar ruídos e padrões que escapem da utilidade estreita).

As coisas são sempre aliadas importante nos processos de subjetivação. A Internet das Coisas deve ser também. Nesse sentido, há muito o que fazer já que o desenvolvimento maior é na área do comércio de produtos e serviços que pressupõe um sujeito sempre atento, sempre informado, sempre controlador do espaço. Talvez seja necessário que as coisas falem de outro jeito, que a Internet das Coisas passe por um processo amplo de “arduinoização” (ver aqui também), onde os controladores e os protótipos de conexão dos objetos possam ser feitos de forma aberta e colaborativa para despertar novos olhares e sentidos no urbano.

Na minha apresentação em Parati, vou explicar o que é a Internet das Coisas e a sua importancia mundial. Vou mostrar as vantagens e os perigos dessa conexão generalizada de objetos e como a vigilância e o monitoramento por redes sociais e RFID é, ao mesmo tempo, o que mais assusta e o que pode salvar. Mostro dois vídeos antagônicos, um do típico panoptico foucaultiano e outro da sociedade do controle (Deleuze) para expor as diferenças. Em seguida darei alguns exemplos com alguns projetos de RFID em uniformes de estudantes, uma árvore falante, experiência de rastreamento de lixo e de usuários pelo Foursquare, o uso de GPS automotivo colaborativo com o Waze, do Arduino para projetos artísticos e iniciativas independentes com o meu singelo “memória das coisas“. Em seguida apresento alguns projetos de realidade aumentada (contruindo narrativas visuais no espaço urbano) e termino com um kit de sobrevivência nas cidades na era da computação ubíqua e pervasiva.

Bom, tudo isso em 20 minutos!!

Coloco em breve a apresentação no Prezi aqui.

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